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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

W., eu e o pacote de bolacha recheada

Eu disse a W. pra pensar bem quando fosse decidir sobre a situação. Ele me olhou com aqueles grandes olhos castanhos esperei algo como uma enxurrada de lamentações. Porém sereno como sempre, ele me disse: “Olha, eu gosto dela”. Ok, amigo. Sempre achei a falta de iniciativa de W. um incomodo pra mim. Seu conformismo me agredia de tal forma que não faltaram as vezes em que tive vontade de enchê-lo de palmadas. Esta bem, os acontecimentos em sua vida foram terríveis. Não conheceu o pai, anos depois perdera a mãe e morrera a obrigado a viver com as irmãs mais velhas. Era um relacionamento conturbado. Até conhecer D. Bom, D. no começo era uma figura bastante doce, de repente ainda é. No começo, as coisas sempre parecem surreais, tudo muito doce, novo, etc. e tal. W. viu nela uma oportunidade de se libertar das coisas antigas e mesmo para fazer o que tinha de ser feito, demorou meses. Ele acreditava que os olhos de D. estavam voltados para um outro amigo próximo da gente. Nessas horas, quem esta fora do furacão tem uma visão mais ampla das coisas. Então tratei de dizer justamente lhe dizer o contrário. Esse outro amigo nosso me odeia até hoje, mas a do jeito que estava a situação, estava na cara que D. apenas suportava esse nosso amigo. Quando finalmente firmaram compromisso eu já morava em outra cidade, mas sempre acompanhei à distância os acontecimentos. W. me mantinha informado e quando me disse em carta que a situação havia mudado da água pro vinho em apenas dois meses. O que era pra ser uma nova vida acabou se tornando um extensão da vida de D. o cordão umbilical não havia sido cortado. Ruptura nunca é fácil, mas necessária. Eu acho. D. queria manter o estilo de vida da época em que namorava W.. Quando D. era pra estar com W. estava fora, na casa dos pais. Deixando W. muito fulo da vida. Então eu dizia pra W.: “Essa é a melhor maneira de morrer.” Ele nunca entendeu a piada. Nunca me prestei a explicá-la também. O fato é a coisa foi se tornando crônica e motivo pra discussões tolas até o ponto em que W. acabou se conformando com a situação percebendo que não ia mais ter jeito. Eu confesso que ajudei W. desenvolver sua opinião pois, acredito que as pessoas devam ter uma chance de assimilar primeiro pra depois decidir de forma coerente. O fato é que no caso de D. e W. a situação já estava estabelecida bem antes de se casarem. Não vi isso, nem W. e acabei julgando mal a situação dando uma opinião equivocada que acabou influenciando no fato de W. querer trair a mulher. “Não sei meu, filho, acho que você deve pensar.” Um erro não justifica outro. E a mancada ocorreu no princípio de tudo, de repente dá pra se ajeitar as coisas. Falei isso sem tentar expressar opinião e sem induzi-lo a nada. W. continuou me olhando com aqueles olhos inexpressivos. Achei prudente não falar mais nada. Abri um pacote de bolacha recheada e comecei a escrever esse texto.

sábado, 14 de novembro de 2009

Senhorita K. sob o leite derramado

K. tem um problema sério de discernimento. Pra mim sempre foi problema de auto estima beirando a auto piedade. Não sei bem, mas não me colocaria em cheque tão facilmente assim. Todavia se ela gosta de ser a bola da caçapa, que seja! K., meu bem, você está certa e errada.Certa poque a vida tem que ser vivida mesmo, mas com responsabilidade. Estranho você, madura e instruída não se dar conta disso; errada , por que a escolha não foi das melhores.
O caso é muito simples: K. conheceu R. pela net, até aí nada demais. Porém, R. esqueceu de lhe dizer que já tinha um relaciomento estável. K. não se preocupou com isso. Continuou vivendo como se a outra vida de R. não existisse. Ela vivia se queixando da falta de atenção etc e tal. Talvez seja característica do signo. Eu acredito nessas coisas até o ponto em que o místico e o real se encontram. Depois disso, é pura bobagem. O que me parece é que R. não quer assumir a condição de parceiro fiel de K., pior que isso. Depois que K. "encomendou" um presente secreto para R., aí tudo piorou.
Conheci o R. e não o achei lá grandes coisas. Uma hora foi mais do que suficiente pra sacar o perfil da figura. Bem, macaco velho. Só correndo.Corri. K. preferiu brincar de roleta russa. Parece que o tambor está girando mais rápido pro seu lado. As chances estão diminuindo . A pergunta é se R. vai assumir de uma vez a situação. Acho que não. A vida dele já está bem construída. "Presentes" não seguram ninguém. Mas, K. minha filha, você terá de começar a usar roupas mais folgadas e no final das contas, não vai adiantar muito. Terá um sabor amargo no final da bebida. Cai na real. Já, já sacaram o buraco em que se enfiou e não vão querer descer pra te puxar. Certamente você se verá perdida de verdade. Tarde demais. Hmmmm, sinto um futuro lacrimoso pra você. Quer um guardanapo?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Meia de Natal

Cohen estava cansado. Porra, tinha uma vida inteira de frustrações, escolhas mal feitas e atitudes negativas que só poderiam acabar num quartinho nos fundos de uma casa no meio de uma periferia no cú da América do Sul.
Dezembro havia acabado de chegar, com suas luzes coloridas repletas de falsos sonhos e esperanças de borracha ou com alguma coisa que lembrava isso. E quando Dezembro chega sempre há pra ele um misto de alívio e desgosto. Alívio por ter conseguido passar ileso os 335 dias; desgosto por saber que virão outros de possíveis aborrecimentos. E tinha Clara. Não via há um bom tempo sua filha. Zilda arrastou a menina pelos braços com uma mala cheia de roupas, numa tarde, obrigando-o a vê-la quando sua vontade de transar não cabia dentro da sua boceta. Então ele ia até a sua casa, dava uma, via a menina e saía fora.
Sete meses já haviam se passado desde então. Agora tava indo ver a garotinha. E não tinha presente. E não tinha dinheiro. Queria lhe fazer uma surpresa. Arranjou uma roupa de Papai Noel e ia dar um Natal melhor pra ela. Porra, já que era pra fingir, tinha que fingir bonito. Com classe. Colocou a barba falsa, a peruca e depois o gorro ridículo. Pegou o saco vermelho e conferiu o material que tava dentro dele. Tá certo, é isso aí. Não tem jeito mesmo. Saiu e foi em direção à parada de ônibus. Ninguém o reconheceu.
Algumas crianças ficaram malucas por ele, gritando "Papai Noel", e outras quase arrancaram sua calça. Uma outra pulou em seus braços depois que fugiu da mãe e atravessou correndo a rua sem olhar pros lados. Diacho, às vezes as coisas poderiam ter sido bem melhores. Ele se livrou dela. Devolveu-a pra mãe. Ficou na parada e tomou o ônibus. Cinco pontos depois ele desceu. Parou num bar. Um bando de figuras obscuras ficou olhando pra ele.
- Ô, Papai Noel, me dá uma bocetinha de classe pra eu comer assada nesse Natal – disse um deles.
- Se a Danielle Winits estiver aí dentro, eu pulo dentro desse saco e fodo com ela – disse outro.
Risos.
Ele não riu.Pediu uma branquinha e matou-a numa golada só. O negócio desceu quente. Ele tava ligadão agora. Saiu do bar e ficou parado na esquina esperando. Um carro passou com quatro rapazes e um deles lhe apontou o dedo médio e disse um belo palavrão. Certo. A vida vai acabar pra você um dia, meu garoto. Mediu todos os prós e contras na cabeça. O.k. É isso. Seguiu pela calçada até chegar ao posto de gasolina. A loja de conveniências estava aberta. Conferiu mais uma vez o material no saco e dirigiu pra loja.
Havia duas pessoas lá dentro. Um velho com um saco de batatas fritas e a moça que fazia o atendimento. Ao entrar na loja ele já segurava o revólver escondido dentro do saco. Quando ele ameaçou abrir a boca pra anunciar o assalto, a moça disse:
- Pô, Ingo, pensei que você não fosse vir mais, caramba. Olha só a hora - ela apontou o relógio na parede, que marcava dez e meia.
Ingo?
Ele guardou o revólver.
- É pra você ir pra frente do posto e ficar lá balançando o sininho.
Balançando o sininho?
- Tá bom.
Ele foi pra lá. Sete anões o aguardavam ansiosos, de braços cruzados. Pareciam putos da cara. Um deles, com cara de bunda, se aproximou e fez um sinal com o dedo pra que ele se aproximasse. Cohen abaixou.
- Olha aqui, Ingo – começou o anão – vê se não te atrasa, porra. A gente tá te esperando há um tempão aqui. As crianças estão malucas. Olha como elas pulam enlouquecidas. Parecem um bando de macacos querendo banana. Vê se põe logo esse teu rabo gordo naquela porra de cadeira. Vai lá fazer o teu papel, que eu faço o meu. Ok?
- Tá.
O que era mesmo que ele ia fazer ali?
Um roubo?
Cohen sentou na cadeira. Haviam feito um altar típico de Natal, com luzes e tudo mais. Um saco. Ele colocou o saco, com o revólver, ao seu lado. E uma das crianças que estavam esperando o Papai Noel se desvencilhou da mãe, foi correndo e pulou em seu colo, lhe acertando os bagos. Jesus Cristo! Que dor dos diabos! Mas ele agüentou firme. Depois dela vieram outras e outras. Quando deu por si já eram sete da noite, mas ainda havia sol. O horário de verão. Passou rápido o dia. Os anões já se preparavam pra se mandar.
- Hei, Ingo – disse um deles – por que hoje você não deu seu show de dança?
- Bati o pé na mesa de casa.- Ah. Tu não vai pegar a grna da gente lá na loja?
Grana?
- Ah, é. A grana.
- É, panaca, a Melinda vai sair fora e esquecer de pagar a gente, cara.
Então ele seguiu até a loja. A tal Melinda estava lá. Preparava-se pra sair. Estava de cabeça baixa, arrumando o caixa. Cohen fixou seus olhos bem ali. Ela levantou a cabeça.
- Ah, é você. Já acabou o dia, não é?
- É. Dia duro. Elas estavam impossíveis hoje.
- Pensei que você gostasse de crianças.
- E gosto. Minha filha sabe o quanto.
- Sua filha? Pensei que fosse gay.
- Hã? Quer dizer, a minha afilhada, Rose. Chamo ela de filha. Você sabe como é.
- Tá esperando o dinheiro, né?
- Os rapazes tão querendo sair fora.
Melinda abriu o caixa, tirou algumas notas de 50 e entregou para Cohen.
- Quatrocentos.
- Quatrocentos.
- É, quatrocentos.
- Quatrocentos paus divididos por oito?
- Isso. Quatrocentos paus divididos por oito. Até o Natal
- Isso dá cinqüenta pra cada um.
- É. Foi o combinado.
- Cinqüenta.
- Olha aqui, Ingo, se não tiver bom você me fala, porque aí eu arrumo outro pra pôr no teu lugar.
O que ele tinha ido fazer ali mesmo?
Ah, é.- Isso é um assalto.
- Se você acha...
- Não, você não entendeu. Isso é um assalto.
Cohen tirou do saco o revólver e apontou pra Melinda, que deu um salto pra trás.
- Mas...
- Um assalto. Passa a grana.
Melinda tirou todo o dinheiro que estava no caixa e entregou para ele.
- Quanto tem aqui?
- Três mil e trezentos.
- Ah, agora sim. O que tem atrás daquela porta?
- A dispensa.
- Entra lá.
- Quê?
- ENTRA LÁ, PORRA.
Melinda entrou.
- Tranca a porta.
Ele colocou algumas caixas pra obstruir a passagem dela. Depois arrancou o telefone do lugar, com fio e tudo, e saiu. No caminho encontrou o anão com cara de bunda e lhe entregou os 400. O anão contou o dinheiro.
- Hei, Ingo, tá sobrando 50 aqui.
- É seu, pelo meu atraso.
- E você?
Ele se mandou pela avenida, se livrando da roupa de Papai Noel no caminho. Guardou o revólver na cintura e, ao chegar à parada, pegou o primeiro ônibus que apareceu. Ia para zona norte. Pagou o cobrador e sentou-se bem ao lado da janela. Viu algumas viaturas indo em direção ao posto com suas sirenes gritando e suas luzes vermelhas piscando. Dezembro. Dessa ele escapou ileso. Ainda tinha o presente de Clara pra comprar. Tinha o peru. As bebidas. Havia um clima de alegria no ar. Bem artificial como sempre é.
Vai ano e vem ano e as coisas nunca mudam. Oscilam um pouco pra cima, um pouco pra baixo, mas é a mesma merda de sempre. Então ajeitou a grana no bolso da calça jeans e o ônibus parou num ponto. Subiu uma mulher que lhe pareceu ter uns vinte e poucos anos e sentou-se ao seu lado no banco. Cheirava bem. Cheirava a banho. Ele riu pra si. Bom, nem sempre é uma merda. Às vezes se oscila pra cima. Bem pra cima.

Charles Bukowski





Vou falar de um sujeito que me deu um soco depois de morto: o sujeito aí do título desta humilde postagem. Lembro do dia em que eu o descobri sem querer. Eu trabalhava numa empresa de tecnologia, na àrea comercial( amigos,não direi o nome da empresa, eles não irão pagar). Lembro do frio, da garoa, do ar condicionado gelado e do tédio de ter que ficar fazendo várias ligações para tentar vender os produtos da empresa( não era telemarketing!) . Como eu tinha lido alguma coisa sobre a literatura beat, comecei a procurar na internet e encontrei alguns nomes e o de Charles Bukowski estav lá erroneamente. Olhei para a fot ai de cima e jurei tê-la visto em algum lugar. Sabe aquele troço intuitivo que te leva à crer já ter visto aquilo em algum lugar? Pois é. Aconteceu comigo. Poderia acontecer quando eu jogo nesses malditos jogos de azar. Porém a sorte, nesse caso específico, foi ter clicado ali e ler o pequeno conto. Lembro do conflito interno em mim, das dores de estômago, cabeça e ansiedade. Queria escrever algo cru, mas tinha o receio de não agradar, mas quando li o texto do sujeito aí do título, foi como um soco no estômago. Foi a mesma sensação que senti em cada nova audição das músicas dos Beatles(isso é uma outra história). Então passei a esquisar mais sobre o Bukowski e vi ali um pouco de Nélson Rodrigues ( cada um nas suas devidas proporções) e percebi que ali seria dos caminhos para mim. Comecei por "Misto Quente", depois "Hollyood", "Pulp" e segui por diversos trabalhos lançados em pocket e ainda não li todos que desejava. Claro,exigi que me dessem sempre um livro do Buk de presente (Iara, meu amor,me perdoa, eu sei quando sou chato!) de aniversário, Natal, Ano Novo, Dia dos Namorados... e fui obrigado a revesar com outros escritores. Contudo esta ai uma dica para quem quer olhar o outro lado da moeda da beleza Americana. Fui...