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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Avatar? Hmm...




Não gostei tanto do filme Avatar como pensei que iria gostar. Os velhos clichês estavam lá. Não há dúvidas da qualidade do trabalho na parte gráfica, da fotografia e dos efeitos especiais que me fizeram sentir dentro de um caleidoscópio de tão colorido. Porém, depois que assisti “Star Wars”, (os Episódios I, II e III) o que vem após é pura repetição. Quem gosta e acha importante toda essa parafernália tecnológica vai gostar. Quem espera um pouco mais de profundidade, vai se decepcionar um pouco como eu. O filme é para crianças. Fiz um esforço desgraçado para lembrar os nomes dos personagens. E olha que não tinham muitos. É bom para distrair.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Seu direito só começa quando acaba o do outro e vice versa



Todo final de ano é a mesma coisa. Próximo às festas, aliás. Bem não estou aqui para defender a pirataria, tampouco levantar bandeira para defender os direitos civis. Porém é de se questionar a conduta da polícia, da justiça e das empresas que entraram com ações para fazer a “batida” na Galeria Pagé em São Paulo nessa época do ano. Não é conveniente? Veja só. Provavelmente você deve ter visto as reportagens na televisão. Eu vi. Achei engraçado um policial militar em frente a uma prateleira e tirando produtos específicos. Somente os piratas específicos. Beleza! O planeta Terra inteiro sabe que 99% dos produtos são piratas e uma semana antes do Natal eles resolvem agir sobre uma situação que acontece o ano todo. Ok. Outra coisa. Ninguém diz para onde vão os produtos. D. é um policial civil. Corretíssimo, e amigo de longa data aqui em Porto Alegre. Ele já participou de várias “batidas” num centro popular da cidade e cansou de ver colegas separando eletrônicos para presentear os amigos e familiares. Levando esse exemplo, dá para se deduzir o que acontece depois dessas batidas.
Todos nós temos um grau de hipocrisia de certa forma, e ficar remoendo isso aqui não é o propósito, mas não podemos esquecer que a pirataria em si é o resultado dos desejos (i)lícitos de outros. Então uma mão lava a outra. Rá,rá,rá. Lembra dos primórdios da revolução industrial? De uma olhada com calma o local de fabricação daquele seu produto eletrônico “oficial”, provavelmente vai estar escrito Made in China, Made in Korea ou “Made in Qualquer lugar da Ásia’’. Parecido não? O que eu quero dizer é que independentemente de ser oficial ou não, alguém vai estar se dando mal. Literalmente.

Péricles em crise





Péricles era um bom escritor. Havia escrito três romances e deixou o emprego de vendedor de uma empresa de cartões para se dedicar exclusivamente à literatura. Trabalhava no quarto romance e estava tão ligado na paranóia daquele personagem, que o cara de súbito, pulou das folhas de papel e caiu bem em cima dele.
- Porra , você não vai seguir essa linha pra mim , vai?
- Claro que sim.
- Não, para com isso, meu.
- Ei, quem manda aqui é eu. Portanto, EU faço o que bem entender com a história.
- Olha meu filho, ninguém mandou você me fazer tão perfeito, saca? Tenho personalidade, isso você não pode negar.
- Pode até ser, mas quem manda aqui, sou eu. EU, entendeu? Você é a criatura.
- Como é o nome daquele cara mesmo? O tal de Frankstung, Frankterm.
- Frankstein, idiota.
- Isso, Frankstein.
- E o que tem? Ah... não diga, já saquei.
- Pois é.
- Olha, não me perturba, tá? Porque diabos você não volta pro livro pra eu poder terminar a história? To cansado das pessoas dizendo qual direção eu tenho que tomar pras minhas histórias.
- Não quero. Tô pensando em dar umas bandas por aí. Conhecer uma garota e me casar. Ter filhos, ficar gordo e careca e morrer de velhice. Esses rolos que você anda me metendo são ridículos, sabia? Nem de bebida eu gosto. Vômitos, sexo sujo, noites loucas é pura lorota. Escreva sobre esquilos, droga.
- Vai se foder.
- Palavrão em literatura é coisa muito feia. E logo você que é tido como culto.
- Volta pro livro, pelamordedeus, é a terceira vez essa semana. Meu editor tá com um caralho deste tamanho pronto pra enfiar na minha bunda.
- Não sei. Você foi muito mal comigo até aqui nessa história. Quando é que eu vou ver a tal luz azul?
- Não tem esse negócio de luz azul, porra. É uma simples metáfora pra morte.
- Não tem luz azul?!
- NÃO TEM LUZ AZUL NENHUMA.
- Caramba Péricles, me dá um tempo, garoto. Seu mentiroso. Todo escritor é mentiroso. Eu sabia. Sempre soube. Seu falso.
- Ai meu deus, isso nunca vai acabar.
- Não se lamente. Confundir sua vida com a de seus personagens deve ser normal. Todos vocês escritores devem ser louquinhos de pedra.
- Só tem um jeito de acabar com tudo isso.
- Como?
- Te matando.
- Eu não posso morrer Péricles. Eu tô dentro de você. EU SOU VOCÊ. A não ser que você se mate.
- Então é isso.
- Isso o que, Péricles?
- Eu vou me matar.
- você não teria coragem pra isso, Péricles.
- Ah não é? Vou te dizer umas coisas sobre ter coragem. Olha aqui, agüentei muitas coisas nessa merda de vida como, por exemplo, a crítica me comparando ao Bukowski . Não tenho nada a ver com aquele cara. Não tinha lido nada dele até ontem à noite. Os caras viviam dizendo que eu tava plagiando o sujeito. Porra nenhuma. Mas continuei escrevendo do meu jeito e ganhando minha grana. E ganhei a batalha. Minha mulher me deixou porque eu não conseguia com ela. Depois conheci a Valeria e então descobri que o problema não era eu. Dou três brincando. Ganhei a batalha. Esperei seis longos anos para ser publicado. Mas não desisti. Hoje as editoras correm atrás de mim. Então não me venha dizer que não tenho coragem, seu babaca.
- Se jogar do quinto andar não é a mesma coisa, Péricles.
- E quem lhe disse que eu vou me jogar do quinto andar, seu imbecil?
Péricles abriu a gaveta da sua escrivaninha e tirou de lá um revolver calibre trinta e oito. O mesmo que tinha tentado suicídio três anos atrás, mas a arma havia falhado. Colocou o revólver na cabeça. Deu um sorriso e disparou. Caramba, que morte! Devia ter escrito aquilo. Devia ter descrito a cara de horror do personagem nos segundos seguintes a explosão do disparo. Era o fim trágico que sempre dava o tom as suas histórias. Era noite de um Sábado de Setembro. Fazia frio apesar de ser noite de primavera. Dava pra ver da sacada os carros passeando na avenida. Sirenes uivavam como lobos famintos. Suas luzes sempre me deixavam melancólico. Voltei pra sala. Troquei a TV de canal. Colei no programa da Hebe. Tinha uma louca com peitões do tamanho de duas melancias. Jesus Cristo! Natureza é mesmo linda. Viver é mesmo bom.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Isso não é uma história de ciúmes




Então o cara olhou pra mim. Depois olhou pra minha mulher. Aí olhou pra mim outra vez. Caramba. Deduziu alguma coisa. Pude sentir o desconforto em seus olhos. Puta merda. Haviam matado Jesus Cristo e engordado Buda; Maomé está esperando a porra da montanha até hoje. O candomblé e a umbanda são coisas do diabo e o mundo ainda continua pensando bobagem. Todos nós não somos unanimidades. Aí ele olhou para minha mulher e ficou se esgueirando pelos corredores do supermercado. Fala sério, pensei, o que esse cara está querendo afinal? Minha mulher não viu nadinha. Pra ela a coisa é mais comum do mundo. Pra mim. . . Bem, às vezes não é. Não insisti no negócio pra não aborrecer a Sara com aquilo. Se o cara continuasse, eu seria agressivo.
Entramos no corredor das bolachas. Ah! Os supermercados são uma merda durante a semana. Aos sábados se tornam um inferno. Tinha tanta gente que dava pra sentir o cheiro delas impregnando o ar. Sara olhava umas bolachas recheadas e vi o sujeito por ali seguindo seus movimentos com os olhos. Embutida num vestido preto, aos trinta e quatro anos, ainda estava numa forma invejável. Saquei o negócio.
Ok.. A gente finge que não vê as coisas. A gente finge que não é conosco. A gente finge que não existe. A gente finge que não incomoda quando não querem sentar do nosso lado no banco do trem, no banco do ônibus ou no banco da praça. A gente finge quando se esforçam pra um aperto de mão. A gente finge até ser o que não é pra ninguém encher o saco. A gente escuta Mozart, Ravel, Beethoven, Dvorák. Agente escuta os Beatles, Led Zeppelin, Radiohead, Pink Floyd e o diabo. A gente vai ao teatro, lê os malditos livros clássicos pra contrair essa bosta de erudição. A gente lê os jornais e revistas de direita. Põe os perfumes mais caros. Tenta ser simpático. A gente tenta pisar em ovos com cuidado pra não quebrá-los. Descola a garota mais bacana do pedaço pra não ficar mal com as pessoas dos narizes tortos e mesmo assim nunca está bom. Caralho! Vai se foder humanidade! Falei pra Sara. Ela pregou aqueles olhos azuis em mim e me beijou gostoso. Continuou seu ritual com as compras. Olhei pra os lados e o sujeito havia desaparecido. Ufa. “Não falei, amor, é coisa da tua cabeça.” Seguimos pros frios. Depois pro caixa.
Eu estava folheando uma revista, quando olhei pro lado e me deparei com o sujeito outra vez. Ai meu Jesus! Jesus! Olhei para Sara. Apontei com a cabeça. “Coisinha da tua cabeça, amor”, eu disse. Ela riu. Não gostei. Não gostei MESMO. Aí começamos a colocar as coisas no caixa para pagar. Então ele olhou pra mim. Depois para minha mulher. Depois para mim de novo. Aí ele veio e eu fui para cima dele. Com uma fúria doentia. Agarrei firme na camisa dele e dei dois socos. Um no rosto. Outro no estomago.Ele caiu. Puta merda. Criei uma confusão dos diabos no mercado. Já imaginava a noticia na primeira página do jornal. Mas continuei firme e forte com o negócio. As pessoas em volta ficaram chocadas e não entendiam porra nenhuma do que tava acontecendo. Sou durão. Bati nele de novo. É sou durão.
“O que é que você quer o cara? Tá seguindo a gente por quê? Você é louco?”
“Desculpa. O senhor não é o F.F.?”, perguntou chorando.
Meu Deus!
“Sou por quê?”
“Fiquei na dúvida, senhor F.. Eu queria um autógrafo seu. Li teu conto “POR QUE OS HOMENS DEIXAM DE AMAR AS MULHERES MARAVILHOSAS”, depois disso sempre que vejo minha mulher sair pelo portão pra ir trabalhar, imploro pra ela voltar.”
Caramba. A gente finge que não é conosco. A gente lê livros importantes. A gente vai ao cinema. Escuta boas músicas. Dá uma esmolinha aos pobres na rua. Vai à igreja. Tem uma mulher bonita. Usa perfume importado e acaba fazendo merda.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ter ou não ter? Eis a questão.





Lc. ficou me olhando com cara de pastel. Sim pastel sem recheio ainda por cima. Mas tudo bem, eu não ligo. Já me basta as agúrias do cotidiano, uma a mais não vai fazer diferença. Mas o fato é que a vida tá dura, Lc, meu chapinha. Você não pode negar. Comecemos pelo tal aquecimento global (depois que li o Blog de um camarada meu, já fiquei na dúvida). Não sei como será o mundo daqui a 30 anos. Provavelmente mais quente, mais populoso, mais competitivo, mais arriscado, talvez haja falta de comida, etc, etc, etc, nessas horas eu gostaria de ser profeta. Mas não sou. Portanto, uso a minha intuição.
Lc. ficou indignado comigo, logo eu, um simples mortal, quando pensei na possibilidade de não ter filhos com minha "deusa nórdica". Diabos foi um discurso e tanto, confesso que fiquei meio entediado, mas Lc. continuou firme na pauta. Fiquei na dúvida se ele queria ter um algo mais com minha mulher. Múu!Não sei quanto a você, mas gosto de cachorro. Vive menos, dá pouco trabalho e se limita em latir. Porém o bicho não vai dormir na minha cama ou lamber minha boca.
O que eu quis deixar claro para Lc (e ele é quem não quis escutar) é que, na minha 'visão limitada'', a responsabilidade de por uma pessoa no mundo vai além das contas e educação. Eu também tenho uma responsabilidade com o mundo. Outro dia li numa revista sobre a quantidade de lixo que uma pessoa produz ao longo de sua vida. Um absurdo, sou porco mesmo! Stephen Hawking , o físico inglês, disse certa vez em algum lugar perdido por aí, que duvidava da existência de vida inteligente fora da Terra e blablabla, pois quanto maior o avanço tecnológico de uma civilização, maior é a chance dela se acabar. Não duvido. Olha a idiotice que aconteceu em Curitiba dias atrás. Alguém tem acompanhado as reuniões em Copenhague? Tá difícil não é? Pois é. Coloquei esses exemplos para ele entender o que eu quis dei esses exemplos para ele entender o que eu quis dizer. Não colou. A cara de pastel permanece ainda em frente a t.v. de 32 polegadas de sua casa sintonizada na Record assistindo. . . "A Fazenda".

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu vs. a tatuagem

Esses dias me aconteceu um negócio engraçado que virou assunto de reflexão na roda de chimarrão. Perto de minha casa há um pequeno mercado onde faço compras. Lugar pequeno e esta sempre lotado. A maioria das pessoas são do bairro, portanto já têm um certo grau de intimidade com o donos do local. Fui comprar algumas coisas para fazer o almoço. Quando estava na fila para pagar as coisas, surgiu um sujeito usando camiseta regata. Ele tinha uma tatuagem no braço e brincava com os funcionários e as pessoas da fila para que elas descobrissem de onde era o bendito desenho. Bem, ninguém imaginava. A tatuagem era de um velho vestido com roupa de mago segurando uma lamparina. Lembrava o Gandalf, do Senhor dos Anéis.
Enquanto o sujeito brincava com todo mundo fiquei observando bem a tatuagem. O cara ficou um tempo brincando com pessoal (atrapalhando o andamento da fila, evidentemente) e passou por mim. Olhei para ele, para tatuagem em seu braço, ele retribuiu o olhar, foi para o fim da fila e depois voltou. Aí veio com essa:
“Aposto que você não sabe de onde é está tatuagem.”
“Por que eu não deveria saber?”, perguntei.
“Bem, porque tu tens cara de colorado.”, disse ele convicto.
Apenas ri. Eu entendi o que ele quis dizer.
“ Quanto quer apostar?”
O sujeito olhou para as pessoas em volta com ar jocoso.
“ Pode ser o valor de suas compras.”
“ Me contento com o jornal.”
Ele riu.
“Pode ser.”
Houve certa expectativa das pessoas em volta.
“ Então?”, perguntou ele batendo na tatuagem.
“ Essa figura é o velhinho na contra capa do disco Led Zeppelin IV de 71. Eu tenho o disco em vinil. Muito bom.”
Jesus Cristo! Ganhei um jornal. As pessoas começaram a rir do sujeito, claro e ele voltou para o fim da fila murchinho.
“Ah – eu disse antes de sair – não sou colorado.Sou tricolor de coração.”

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Eu sou a virgem, ele é a puta



Desta vez L. não esperava por isso. Eu disse a ele que coisas assim acontecem com freqüência e isso e aquilo. Alguém em algum lugar fala agora mesmo. Mas o que ele queria? Ora, ele é um dos grandes amantes das festas, dos carnavais fora de época, macarenas, etc, etc, etc. L. faz questão de frisar que ajuda sua comunidade (favela mesmo esse papo de ficar minimizando as coisas...) a fazer isso e aquilo. Tudo bem, L. eu não te culpo, garoto, mas a gente exporta sensualidade, abrimos nossas pernas pro mundo, somos os melhores no futebol e às vezes confundimos funk com punk. Deveríamos era repensar certas coisas. Se o R. W. disse a piada jocosa eu não o julgo, culpados somos nós. Alimentamos isso, alimentamos a pirataria, a corrupção, a bandidagem, a ignorância, etc, etc, etc, etc. Eu não quero ser reconhecido pela Floresta Amazônica, pelo futebol, mulatas, carnaval. Não quero herdar nada disso, L. Somos mais bonitos e espertos do que julgamos ser. Só nos falta modelos dignos pra seguir e assim podermos dar valor à coisas que realmente valham.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

W., eu e o pacote de bolacha recheada

Eu disse a W. pra pensar bem quando fosse decidir sobre a situação. Ele me olhou com aqueles grandes olhos castanhos esperei algo como uma enxurrada de lamentações. Porém sereno como sempre, ele me disse: “Olha, eu gosto dela”. Ok, amigo. Sempre achei a falta de iniciativa de W. um incomodo pra mim. Seu conformismo me agredia de tal forma que não faltaram as vezes em que tive vontade de enchê-lo de palmadas. Esta bem, os acontecimentos em sua vida foram terríveis. Não conheceu o pai, anos depois perdera a mãe e morrera a obrigado a viver com as irmãs mais velhas. Era um relacionamento conturbado. Até conhecer D. Bom, D. no começo era uma figura bastante doce, de repente ainda é. No começo, as coisas sempre parecem surreais, tudo muito doce, novo, etc. e tal. W. viu nela uma oportunidade de se libertar das coisas antigas e mesmo para fazer o que tinha de ser feito, demorou meses. Ele acreditava que os olhos de D. estavam voltados para um outro amigo próximo da gente. Nessas horas, quem esta fora do furacão tem uma visão mais ampla das coisas. Então tratei de dizer justamente lhe dizer o contrário. Esse outro amigo nosso me odeia até hoje, mas a do jeito que estava a situação, estava na cara que D. apenas suportava esse nosso amigo. Quando finalmente firmaram compromisso eu já morava em outra cidade, mas sempre acompanhei à distância os acontecimentos. W. me mantinha informado e quando me disse em carta que a situação havia mudado da água pro vinho em apenas dois meses. O que era pra ser uma nova vida acabou se tornando um extensão da vida de D. o cordão umbilical não havia sido cortado. Ruptura nunca é fácil, mas necessária. Eu acho. D. queria manter o estilo de vida da época em que namorava W.. Quando D. era pra estar com W. estava fora, na casa dos pais. Deixando W. muito fulo da vida. Então eu dizia pra W.: “Essa é a melhor maneira de morrer.” Ele nunca entendeu a piada. Nunca me prestei a explicá-la também. O fato é a coisa foi se tornando crônica e motivo pra discussões tolas até o ponto em que W. acabou se conformando com a situação percebendo que não ia mais ter jeito. Eu confesso que ajudei W. desenvolver sua opinião pois, acredito que as pessoas devam ter uma chance de assimilar primeiro pra depois decidir de forma coerente. O fato é que no caso de D. e W. a situação já estava estabelecida bem antes de se casarem. Não vi isso, nem W. e acabei julgando mal a situação dando uma opinião equivocada que acabou influenciando no fato de W. querer trair a mulher. “Não sei meu, filho, acho que você deve pensar.” Um erro não justifica outro. E a mancada ocorreu no princípio de tudo, de repente dá pra se ajeitar as coisas. Falei isso sem tentar expressar opinião e sem induzi-lo a nada. W. continuou me olhando com aqueles olhos inexpressivos. Achei prudente não falar mais nada. Abri um pacote de bolacha recheada e comecei a escrever esse texto.

sábado, 14 de novembro de 2009

Senhorita K. sob o leite derramado

K. tem um problema sério de discernimento. Pra mim sempre foi problema de auto estima beirando a auto piedade. Não sei bem, mas não me colocaria em cheque tão facilmente assim. Todavia se ela gosta de ser a bola da caçapa, que seja! K., meu bem, você está certa e errada.Certa poque a vida tem que ser vivida mesmo, mas com responsabilidade. Estranho você, madura e instruída não se dar conta disso; errada , por que a escolha não foi das melhores.
O caso é muito simples: K. conheceu R. pela net, até aí nada demais. Porém, R. esqueceu de lhe dizer que já tinha um relaciomento estável. K. não se preocupou com isso. Continuou vivendo como se a outra vida de R. não existisse. Ela vivia se queixando da falta de atenção etc e tal. Talvez seja característica do signo. Eu acredito nessas coisas até o ponto em que o místico e o real se encontram. Depois disso, é pura bobagem. O que me parece é que R. não quer assumir a condição de parceiro fiel de K., pior que isso. Depois que K. "encomendou" um presente secreto para R., aí tudo piorou.
Conheci o R. e não o achei lá grandes coisas. Uma hora foi mais do que suficiente pra sacar o perfil da figura. Bem, macaco velho. Só correndo.Corri. K. preferiu brincar de roleta russa. Parece que o tambor está girando mais rápido pro seu lado. As chances estão diminuindo . A pergunta é se R. vai assumir de uma vez a situação. Acho que não. A vida dele já está bem construída. "Presentes" não seguram ninguém. Mas, K. minha filha, você terá de começar a usar roupas mais folgadas e no final das contas, não vai adiantar muito. Terá um sabor amargo no final da bebida. Cai na real. Já, já sacaram o buraco em que se enfiou e não vão querer descer pra te puxar. Certamente você se verá perdida de verdade. Tarde demais. Hmmmm, sinto um futuro lacrimoso pra você. Quer um guardanapo?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Meia de Natal

Cohen estava cansado. Porra, tinha uma vida inteira de frustrações, escolhas mal feitas e atitudes negativas que só poderiam acabar num quartinho nos fundos de uma casa no meio de uma periferia no cú da América do Sul.
Dezembro havia acabado de chegar, com suas luzes coloridas repletas de falsos sonhos e esperanças de borracha ou com alguma coisa que lembrava isso. E quando Dezembro chega sempre há pra ele um misto de alívio e desgosto. Alívio por ter conseguido passar ileso os 335 dias; desgosto por saber que virão outros de possíveis aborrecimentos. E tinha Clara. Não via há um bom tempo sua filha. Zilda arrastou a menina pelos braços com uma mala cheia de roupas, numa tarde, obrigando-o a vê-la quando sua vontade de transar não cabia dentro da sua boceta. Então ele ia até a sua casa, dava uma, via a menina e saía fora.
Sete meses já haviam se passado desde então. Agora tava indo ver a garotinha. E não tinha presente. E não tinha dinheiro. Queria lhe fazer uma surpresa. Arranjou uma roupa de Papai Noel e ia dar um Natal melhor pra ela. Porra, já que era pra fingir, tinha que fingir bonito. Com classe. Colocou a barba falsa, a peruca e depois o gorro ridículo. Pegou o saco vermelho e conferiu o material que tava dentro dele. Tá certo, é isso aí. Não tem jeito mesmo. Saiu e foi em direção à parada de ônibus. Ninguém o reconheceu.
Algumas crianças ficaram malucas por ele, gritando "Papai Noel", e outras quase arrancaram sua calça. Uma outra pulou em seus braços depois que fugiu da mãe e atravessou correndo a rua sem olhar pros lados. Diacho, às vezes as coisas poderiam ter sido bem melhores. Ele se livrou dela. Devolveu-a pra mãe. Ficou na parada e tomou o ônibus. Cinco pontos depois ele desceu. Parou num bar. Um bando de figuras obscuras ficou olhando pra ele.
- Ô, Papai Noel, me dá uma bocetinha de classe pra eu comer assada nesse Natal – disse um deles.
- Se a Danielle Winits estiver aí dentro, eu pulo dentro desse saco e fodo com ela – disse outro.
Risos.
Ele não riu.Pediu uma branquinha e matou-a numa golada só. O negócio desceu quente. Ele tava ligadão agora. Saiu do bar e ficou parado na esquina esperando. Um carro passou com quatro rapazes e um deles lhe apontou o dedo médio e disse um belo palavrão. Certo. A vida vai acabar pra você um dia, meu garoto. Mediu todos os prós e contras na cabeça. O.k. É isso. Seguiu pela calçada até chegar ao posto de gasolina. A loja de conveniências estava aberta. Conferiu mais uma vez o material no saco e dirigiu pra loja.
Havia duas pessoas lá dentro. Um velho com um saco de batatas fritas e a moça que fazia o atendimento. Ao entrar na loja ele já segurava o revólver escondido dentro do saco. Quando ele ameaçou abrir a boca pra anunciar o assalto, a moça disse:
- Pô, Ingo, pensei que você não fosse vir mais, caramba. Olha só a hora - ela apontou o relógio na parede, que marcava dez e meia.
Ingo?
Ele guardou o revólver.
- É pra você ir pra frente do posto e ficar lá balançando o sininho.
Balançando o sininho?
- Tá bom.
Ele foi pra lá. Sete anões o aguardavam ansiosos, de braços cruzados. Pareciam putos da cara. Um deles, com cara de bunda, se aproximou e fez um sinal com o dedo pra que ele se aproximasse. Cohen abaixou.
- Olha aqui, Ingo – começou o anão – vê se não te atrasa, porra. A gente tá te esperando há um tempão aqui. As crianças estão malucas. Olha como elas pulam enlouquecidas. Parecem um bando de macacos querendo banana. Vê se põe logo esse teu rabo gordo naquela porra de cadeira. Vai lá fazer o teu papel, que eu faço o meu. Ok?
- Tá.
O que era mesmo que ele ia fazer ali?
Um roubo?
Cohen sentou na cadeira. Haviam feito um altar típico de Natal, com luzes e tudo mais. Um saco. Ele colocou o saco, com o revólver, ao seu lado. E uma das crianças que estavam esperando o Papai Noel se desvencilhou da mãe, foi correndo e pulou em seu colo, lhe acertando os bagos. Jesus Cristo! Que dor dos diabos! Mas ele agüentou firme. Depois dela vieram outras e outras. Quando deu por si já eram sete da noite, mas ainda havia sol. O horário de verão. Passou rápido o dia. Os anões já se preparavam pra se mandar.
- Hei, Ingo – disse um deles – por que hoje você não deu seu show de dança?
- Bati o pé na mesa de casa.- Ah. Tu não vai pegar a grna da gente lá na loja?
Grana?
- Ah, é. A grana.
- É, panaca, a Melinda vai sair fora e esquecer de pagar a gente, cara.
Então ele seguiu até a loja. A tal Melinda estava lá. Preparava-se pra sair. Estava de cabeça baixa, arrumando o caixa. Cohen fixou seus olhos bem ali. Ela levantou a cabeça.
- Ah, é você. Já acabou o dia, não é?
- É. Dia duro. Elas estavam impossíveis hoje.
- Pensei que você gostasse de crianças.
- E gosto. Minha filha sabe o quanto.
- Sua filha? Pensei que fosse gay.
- Hã? Quer dizer, a minha afilhada, Rose. Chamo ela de filha. Você sabe como é.
- Tá esperando o dinheiro, né?
- Os rapazes tão querendo sair fora.
Melinda abriu o caixa, tirou algumas notas de 50 e entregou para Cohen.
- Quatrocentos.
- Quatrocentos.
- É, quatrocentos.
- Quatrocentos paus divididos por oito?
- Isso. Quatrocentos paus divididos por oito. Até o Natal
- Isso dá cinqüenta pra cada um.
- É. Foi o combinado.
- Cinqüenta.
- Olha aqui, Ingo, se não tiver bom você me fala, porque aí eu arrumo outro pra pôr no teu lugar.
O que ele tinha ido fazer ali mesmo?
Ah, é.- Isso é um assalto.
- Se você acha...
- Não, você não entendeu. Isso é um assalto.
Cohen tirou do saco o revólver e apontou pra Melinda, que deu um salto pra trás.
- Mas...
- Um assalto. Passa a grana.
Melinda tirou todo o dinheiro que estava no caixa e entregou para ele.
- Quanto tem aqui?
- Três mil e trezentos.
- Ah, agora sim. O que tem atrás daquela porta?
- A dispensa.
- Entra lá.
- Quê?
- ENTRA LÁ, PORRA.
Melinda entrou.
- Tranca a porta.
Ele colocou algumas caixas pra obstruir a passagem dela. Depois arrancou o telefone do lugar, com fio e tudo, e saiu. No caminho encontrou o anão com cara de bunda e lhe entregou os 400. O anão contou o dinheiro.
- Hei, Ingo, tá sobrando 50 aqui.
- É seu, pelo meu atraso.
- E você?
Ele se mandou pela avenida, se livrando da roupa de Papai Noel no caminho. Guardou o revólver na cintura e, ao chegar à parada, pegou o primeiro ônibus que apareceu. Ia para zona norte. Pagou o cobrador e sentou-se bem ao lado da janela. Viu algumas viaturas indo em direção ao posto com suas sirenes gritando e suas luzes vermelhas piscando. Dezembro. Dessa ele escapou ileso. Ainda tinha o presente de Clara pra comprar. Tinha o peru. As bebidas. Havia um clima de alegria no ar. Bem artificial como sempre é.
Vai ano e vem ano e as coisas nunca mudam. Oscilam um pouco pra cima, um pouco pra baixo, mas é a mesma merda de sempre. Então ajeitou a grana no bolso da calça jeans e o ônibus parou num ponto. Subiu uma mulher que lhe pareceu ter uns vinte e poucos anos e sentou-se ao seu lado no banco. Cheirava bem. Cheirava a banho. Ele riu pra si. Bom, nem sempre é uma merda. Às vezes se oscila pra cima. Bem pra cima.

Charles Bukowski





Vou falar de um sujeito que me deu um soco depois de morto: o sujeito aí do título desta humilde postagem. Lembro do dia em que eu o descobri sem querer. Eu trabalhava numa empresa de tecnologia, na àrea comercial( amigos,não direi o nome da empresa, eles não irão pagar). Lembro do frio, da garoa, do ar condicionado gelado e do tédio de ter que ficar fazendo várias ligações para tentar vender os produtos da empresa( não era telemarketing!) . Como eu tinha lido alguma coisa sobre a literatura beat, comecei a procurar na internet e encontrei alguns nomes e o de Charles Bukowski estav lá erroneamente. Olhei para a fot ai de cima e jurei tê-la visto em algum lugar. Sabe aquele troço intuitivo que te leva à crer já ter visto aquilo em algum lugar? Pois é. Aconteceu comigo. Poderia acontecer quando eu jogo nesses malditos jogos de azar. Porém a sorte, nesse caso específico, foi ter clicado ali e ler o pequeno conto. Lembro do conflito interno em mim, das dores de estômago, cabeça e ansiedade. Queria escrever algo cru, mas tinha o receio de não agradar, mas quando li o texto do sujeito aí do título, foi como um soco no estômago. Foi a mesma sensação que senti em cada nova audição das músicas dos Beatles(isso é uma outra história). Então passei a esquisar mais sobre o Bukowski e vi ali um pouco de Nélson Rodrigues ( cada um nas suas devidas proporções) e percebi que ali seria dos caminhos para mim. Comecei por "Misto Quente", depois "Hollyood", "Pulp" e segui por diversos trabalhos lançados em pocket e ainda não li todos que desejava. Claro,exigi que me dessem sempre um livro do Buk de presente (Iara, meu amor,me perdoa, eu sei quando sou chato!) de aniversário, Natal, Ano Novo, Dia dos Namorados... e fui obrigado a revesar com outros escritores. Contudo esta ai uma dica para quem quer olhar o outro lado da moeda da beleza Americana. Fui...