Páginas

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Avatar? Hmm...




Não gostei tanto do filme Avatar como pensei que iria gostar. Os velhos clichês estavam lá. Não há dúvidas da qualidade do trabalho na parte gráfica, da fotografia e dos efeitos especiais que me fizeram sentir dentro de um caleidoscópio de tão colorido. Porém, depois que assisti “Star Wars”, (os Episódios I, II e III) o que vem após é pura repetição. Quem gosta e acha importante toda essa parafernália tecnológica vai gostar. Quem espera um pouco mais de profundidade, vai se decepcionar um pouco como eu. O filme é para crianças. Fiz um esforço desgraçado para lembrar os nomes dos personagens. E olha que não tinham muitos. É bom para distrair.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Seu direito só começa quando acaba o do outro e vice versa



Todo final de ano é a mesma coisa. Próximo às festas, aliás. Bem não estou aqui para defender a pirataria, tampouco levantar bandeira para defender os direitos civis. Porém é de se questionar a conduta da polícia, da justiça e das empresas que entraram com ações para fazer a “batida” na Galeria Pagé em São Paulo nessa época do ano. Não é conveniente? Veja só. Provavelmente você deve ter visto as reportagens na televisão. Eu vi. Achei engraçado um policial militar em frente a uma prateleira e tirando produtos específicos. Somente os piratas específicos. Beleza! O planeta Terra inteiro sabe que 99% dos produtos são piratas e uma semana antes do Natal eles resolvem agir sobre uma situação que acontece o ano todo. Ok. Outra coisa. Ninguém diz para onde vão os produtos. D. é um policial civil. Corretíssimo, e amigo de longa data aqui em Porto Alegre. Ele já participou de várias “batidas” num centro popular da cidade e cansou de ver colegas separando eletrônicos para presentear os amigos e familiares. Levando esse exemplo, dá para se deduzir o que acontece depois dessas batidas.
Todos nós temos um grau de hipocrisia de certa forma, e ficar remoendo isso aqui não é o propósito, mas não podemos esquecer que a pirataria em si é o resultado dos desejos (i)lícitos de outros. Então uma mão lava a outra. Rá,rá,rá. Lembra dos primórdios da revolução industrial? De uma olhada com calma o local de fabricação daquele seu produto eletrônico “oficial”, provavelmente vai estar escrito Made in China, Made in Korea ou “Made in Qualquer lugar da Ásia’’. Parecido não? O que eu quero dizer é que independentemente de ser oficial ou não, alguém vai estar se dando mal. Literalmente.

Péricles em crise





Péricles era um bom escritor. Havia escrito três romances e deixou o emprego de vendedor de uma empresa de cartões para se dedicar exclusivamente à literatura. Trabalhava no quarto romance e estava tão ligado na paranóia daquele personagem, que o cara de súbito, pulou das folhas de papel e caiu bem em cima dele.
- Porra , você não vai seguir essa linha pra mim , vai?
- Claro que sim.
- Não, para com isso, meu.
- Ei, quem manda aqui é eu. Portanto, EU faço o que bem entender com a história.
- Olha meu filho, ninguém mandou você me fazer tão perfeito, saca? Tenho personalidade, isso você não pode negar.
- Pode até ser, mas quem manda aqui, sou eu. EU, entendeu? Você é a criatura.
- Como é o nome daquele cara mesmo? O tal de Frankstung, Frankterm.
- Frankstein, idiota.
- Isso, Frankstein.
- E o que tem? Ah... não diga, já saquei.
- Pois é.
- Olha, não me perturba, tá? Porque diabos você não volta pro livro pra eu poder terminar a história? To cansado das pessoas dizendo qual direção eu tenho que tomar pras minhas histórias.
- Não quero. Tô pensando em dar umas bandas por aí. Conhecer uma garota e me casar. Ter filhos, ficar gordo e careca e morrer de velhice. Esses rolos que você anda me metendo são ridículos, sabia? Nem de bebida eu gosto. Vômitos, sexo sujo, noites loucas é pura lorota. Escreva sobre esquilos, droga.
- Vai se foder.
- Palavrão em literatura é coisa muito feia. E logo você que é tido como culto.
- Volta pro livro, pelamordedeus, é a terceira vez essa semana. Meu editor tá com um caralho deste tamanho pronto pra enfiar na minha bunda.
- Não sei. Você foi muito mal comigo até aqui nessa história. Quando é que eu vou ver a tal luz azul?
- Não tem esse negócio de luz azul, porra. É uma simples metáfora pra morte.
- Não tem luz azul?!
- NÃO TEM LUZ AZUL NENHUMA.
- Caramba Péricles, me dá um tempo, garoto. Seu mentiroso. Todo escritor é mentiroso. Eu sabia. Sempre soube. Seu falso.
- Ai meu deus, isso nunca vai acabar.
- Não se lamente. Confundir sua vida com a de seus personagens deve ser normal. Todos vocês escritores devem ser louquinhos de pedra.
- Só tem um jeito de acabar com tudo isso.
- Como?
- Te matando.
- Eu não posso morrer Péricles. Eu tô dentro de você. EU SOU VOCÊ. A não ser que você se mate.
- Então é isso.
- Isso o que, Péricles?
- Eu vou me matar.
- você não teria coragem pra isso, Péricles.
- Ah não é? Vou te dizer umas coisas sobre ter coragem. Olha aqui, agüentei muitas coisas nessa merda de vida como, por exemplo, a crítica me comparando ao Bukowski . Não tenho nada a ver com aquele cara. Não tinha lido nada dele até ontem à noite. Os caras viviam dizendo que eu tava plagiando o sujeito. Porra nenhuma. Mas continuei escrevendo do meu jeito e ganhando minha grana. E ganhei a batalha. Minha mulher me deixou porque eu não conseguia com ela. Depois conheci a Valeria e então descobri que o problema não era eu. Dou três brincando. Ganhei a batalha. Esperei seis longos anos para ser publicado. Mas não desisti. Hoje as editoras correm atrás de mim. Então não me venha dizer que não tenho coragem, seu babaca.
- Se jogar do quinto andar não é a mesma coisa, Péricles.
- E quem lhe disse que eu vou me jogar do quinto andar, seu imbecil?
Péricles abriu a gaveta da sua escrivaninha e tirou de lá um revolver calibre trinta e oito. O mesmo que tinha tentado suicídio três anos atrás, mas a arma havia falhado. Colocou o revólver na cabeça. Deu um sorriso e disparou. Caramba, que morte! Devia ter escrito aquilo. Devia ter descrito a cara de horror do personagem nos segundos seguintes a explosão do disparo. Era o fim trágico que sempre dava o tom as suas histórias. Era noite de um Sábado de Setembro. Fazia frio apesar de ser noite de primavera. Dava pra ver da sacada os carros passeando na avenida. Sirenes uivavam como lobos famintos. Suas luzes sempre me deixavam melancólico. Voltei pra sala. Troquei a TV de canal. Colei no programa da Hebe. Tinha uma louca com peitões do tamanho de duas melancias. Jesus Cristo! Natureza é mesmo linda. Viver é mesmo bom.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Isso não é uma história de ciúmes




Então o cara olhou pra mim. Depois olhou pra minha mulher. Aí olhou pra mim outra vez. Caramba. Deduziu alguma coisa. Pude sentir o desconforto em seus olhos. Puta merda. Haviam matado Jesus Cristo e engordado Buda; Maomé está esperando a porra da montanha até hoje. O candomblé e a umbanda são coisas do diabo e o mundo ainda continua pensando bobagem. Todos nós não somos unanimidades. Aí ele olhou para minha mulher e ficou se esgueirando pelos corredores do supermercado. Fala sério, pensei, o que esse cara está querendo afinal? Minha mulher não viu nadinha. Pra ela a coisa é mais comum do mundo. Pra mim. . . Bem, às vezes não é. Não insisti no negócio pra não aborrecer a Sara com aquilo. Se o cara continuasse, eu seria agressivo.
Entramos no corredor das bolachas. Ah! Os supermercados são uma merda durante a semana. Aos sábados se tornam um inferno. Tinha tanta gente que dava pra sentir o cheiro delas impregnando o ar. Sara olhava umas bolachas recheadas e vi o sujeito por ali seguindo seus movimentos com os olhos. Embutida num vestido preto, aos trinta e quatro anos, ainda estava numa forma invejável. Saquei o negócio.
Ok.. A gente finge que não vê as coisas. A gente finge que não é conosco. A gente finge que não existe. A gente finge que não incomoda quando não querem sentar do nosso lado no banco do trem, no banco do ônibus ou no banco da praça. A gente finge quando se esforçam pra um aperto de mão. A gente finge até ser o que não é pra ninguém encher o saco. A gente escuta Mozart, Ravel, Beethoven, Dvorák. Agente escuta os Beatles, Led Zeppelin, Radiohead, Pink Floyd e o diabo. A gente vai ao teatro, lê os malditos livros clássicos pra contrair essa bosta de erudição. A gente lê os jornais e revistas de direita. Põe os perfumes mais caros. Tenta ser simpático. A gente tenta pisar em ovos com cuidado pra não quebrá-los. Descola a garota mais bacana do pedaço pra não ficar mal com as pessoas dos narizes tortos e mesmo assim nunca está bom. Caralho! Vai se foder humanidade! Falei pra Sara. Ela pregou aqueles olhos azuis em mim e me beijou gostoso. Continuou seu ritual com as compras. Olhei pra os lados e o sujeito havia desaparecido. Ufa. “Não falei, amor, é coisa da tua cabeça.” Seguimos pros frios. Depois pro caixa.
Eu estava folheando uma revista, quando olhei pro lado e me deparei com o sujeito outra vez. Ai meu Jesus! Jesus! Olhei para Sara. Apontei com a cabeça. “Coisinha da tua cabeça, amor”, eu disse. Ela riu. Não gostei. Não gostei MESMO. Aí começamos a colocar as coisas no caixa para pagar. Então ele olhou pra mim. Depois para minha mulher. Depois para mim de novo. Aí ele veio e eu fui para cima dele. Com uma fúria doentia. Agarrei firme na camisa dele e dei dois socos. Um no rosto. Outro no estomago.Ele caiu. Puta merda. Criei uma confusão dos diabos no mercado. Já imaginava a noticia na primeira página do jornal. Mas continuei firme e forte com o negócio. As pessoas em volta ficaram chocadas e não entendiam porra nenhuma do que tava acontecendo. Sou durão. Bati nele de novo. É sou durão.
“O que é que você quer o cara? Tá seguindo a gente por quê? Você é louco?”
“Desculpa. O senhor não é o F.F.?”, perguntou chorando.
Meu Deus!
“Sou por quê?”
“Fiquei na dúvida, senhor F.. Eu queria um autógrafo seu. Li teu conto “POR QUE OS HOMENS DEIXAM DE AMAR AS MULHERES MARAVILHOSAS”, depois disso sempre que vejo minha mulher sair pelo portão pra ir trabalhar, imploro pra ela voltar.”
Caramba. A gente finge que não é conosco. A gente lê livros importantes. A gente vai ao cinema. Escuta boas músicas. Dá uma esmolinha aos pobres na rua. Vai à igreja. Tem uma mulher bonita. Usa perfume importado e acaba fazendo merda.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ter ou não ter? Eis a questão.





Lc. ficou me olhando com cara de pastel. Sim pastel sem recheio ainda por cima. Mas tudo bem, eu não ligo. Já me basta as agúrias do cotidiano, uma a mais não vai fazer diferença. Mas o fato é que a vida tá dura, Lc, meu chapinha. Você não pode negar. Comecemos pelo tal aquecimento global (depois que li o Blog de um camarada meu, já fiquei na dúvida). Não sei como será o mundo daqui a 30 anos. Provavelmente mais quente, mais populoso, mais competitivo, mais arriscado, talvez haja falta de comida, etc, etc, etc, nessas horas eu gostaria de ser profeta. Mas não sou. Portanto, uso a minha intuição.
Lc. ficou indignado comigo, logo eu, um simples mortal, quando pensei na possibilidade de não ter filhos com minha "deusa nórdica". Diabos foi um discurso e tanto, confesso que fiquei meio entediado, mas Lc. continuou firme na pauta. Fiquei na dúvida se ele queria ter um algo mais com minha mulher. Múu!Não sei quanto a você, mas gosto de cachorro. Vive menos, dá pouco trabalho e se limita em latir. Porém o bicho não vai dormir na minha cama ou lamber minha boca.
O que eu quis deixar claro para Lc (e ele é quem não quis escutar) é que, na minha 'visão limitada'', a responsabilidade de por uma pessoa no mundo vai além das contas e educação. Eu também tenho uma responsabilidade com o mundo. Outro dia li numa revista sobre a quantidade de lixo que uma pessoa produz ao longo de sua vida. Um absurdo, sou porco mesmo! Stephen Hawking , o físico inglês, disse certa vez em algum lugar perdido por aí, que duvidava da existência de vida inteligente fora da Terra e blablabla, pois quanto maior o avanço tecnológico de uma civilização, maior é a chance dela se acabar. Não duvido. Olha a idiotice que aconteceu em Curitiba dias atrás. Alguém tem acompanhado as reuniões em Copenhague? Tá difícil não é? Pois é. Coloquei esses exemplos para ele entender o que eu quis dei esses exemplos para ele entender o que eu quis dizer. Não colou. A cara de pastel permanece ainda em frente a t.v. de 32 polegadas de sua casa sintonizada na Record assistindo. . . "A Fazenda".

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu vs. a tatuagem

Esses dias me aconteceu um negócio engraçado que virou assunto de reflexão na roda de chimarrão. Perto de minha casa há um pequeno mercado onde faço compras. Lugar pequeno e esta sempre lotado. A maioria das pessoas são do bairro, portanto já têm um certo grau de intimidade com o donos do local. Fui comprar algumas coisas para fazer o almoço. Quando estava na fila para pagar as coisas, surgiu um sujeito usando camiseta regata. Ele tinha uma tatuagem no braço e brincava com os funcionários e as pessoas da fila para que elas descobrissem de onde era o bendito desenho. Bem, ninguém imaginava. A tatuagem era de um velho vestido com roupa de mago segurando uma lamparina. Lembrava o Gandalf, do Senhor dos Anéis.
Enquanto o sujeito brincava com todo mundo fiquei observando bem a tatuagem. O cara ficou um tempo brincando com pessoal (atrapalhando o andamento da fila, evidentemente) e passou por mim. Olhei para ele, para tatuagem em seu braço, ele retribuiu o olhar, foi para o fim da fila e depois voltou. Aí veio com essa:
“Aposto que você não sabe de onde é está tatuagem.”
“Por que eu não deveria saber?”, perguntei.
“Bem, porque tu tens cara de colorado.”, disse ele convicto.
Apenas ri. Eu entendi o que ele quis dizer.
“ Quanto quer apostar?”
O sujeito olhou para as pessoas em volta com ar jocoso.
“ Pode ser o valor de suas compras.”
“ Me contento com o jornal.”
Ele riu.
“Pode ser.”
Houve certa expectativa das pessoas em volta.
“ Então?”, perguntou ele batendo na tatuagem.
“ Essa figura é o velhinho na contra capa do disco Led Zeppelin IV de 71. Eu tenho o disco em vinil. Muito bom.”
Jesus Cristo! Ganhei um jornal. As pessoas começaram a rir do sujeito, claro e ele voltou para o fim da fila murchinho.
“Ah – eu disse antes de sair – não sou colorado.Sou tricolor de coração.”

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Eu sou a virgem, ele é a puta



Desta vez L. não esperava por isso. Eu disse a ele que coisas assim acontecem com freqüência e isso e aquilo. Alguém em algum lugar fala agora mesmo. Mas o que ele queria? Ora, ele é um dos grandes amantes das festas, dos carnavais fora de época, macarenas, etc, etc, etc. L. faz questão de frisar que ajuda sua comunidade (favela mesmo esse papo de ficar minimizando as coisas...) a fazer isso e aquilo. Tudo bem, L. eu não te culpo, garoto, mas a gente exporta sensualidade, abrimos nossas pernas pro mundo, somos os melhores no futebol e às vezes confundimos funk com punk. Deveríamos era repensar certas coisas. Se o R. W. disse a piada jocosa eu não o julgo, culpados somos nós. Alimentamos isso, alimentamos a pirataria, a corrupção, a bandidagem, a ignorância, etc, etc, etc, etc. Eu não quero ser reconhecido pela Floresta Amazônica, pelo futebol, mulatas, carnaval. Não quero herdar nada disso, L. Somos mais bonitos e espertos do que julgamos ser. Só nos falta modelos dignos pra seguir e assim podermos dar valor à coisas que realmente valham.