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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

W., eu e o pacote de bolacha recheada

Eu disse a W. pra pensar bem quando fosse decidir sobre a situação. Ele me olhou com aqueles grandes olhos castanhos esperei algo como uma enxurrada de lamentações. Porém sereno como sempre, ele me disse: “Olha, eu gosto dela”. Ok, amigo. Sempre achei a falta de iniciativa de W. um incomodo pra mim. Seu conformismo me agredia de tal forma que não faltaram as vezes em que tive vontade de enchê-lo de palmadas. Esta bem, os acontecimentos em sua vida foram terríveis. Não conheceu o pai, anos depois perdera a mãe e morrera a obrigado a viver com as irmãs mais velhas. Era um relacionamento conturbado. Até conhecer D. Bom, D. no começo era uma figura bastante doce, de repente ainda é. No começo, as coisas sempre parecem surreais, tudo muito doce, novo, etc. e tal. W. viu nela uma oportunidade de se libertar das coisas antigas e mesmo para fazer o que tinha de ser feito, demorou meses. Ele acreditava que os olhos de D. estavam voltados para um outro amigo próximo da gente. Nessas horas, quem esta fora do furacão tem uma visão mais ampla das coisas. Então tratei de dizer justamente lhe dizer o contrário. Esse outro amigo nosso me odeia até hoje, mas a do jeito que estava a situação, estava na cara que D. apenas suportava esse nosso amigo. Quando finalmente firmaram compromisso eu já morava em outra cidade, mas sempre acompanhei à distância os acontecimentos. W. me mantinha informado e quando me disse em carta que a situação havia mudado da água pro vinho em apenas dois meses. O que era pra ser uma nova vida acabou se tornando um extensão da vida de D. o cordão umbilical não havia sido cortado. Ruptura nunca é fácil, mas necessária. Eu acho. D. queria manter o estilo de vida da época em que namorava W.. Quando D. era pra estar com W. estava fora, na casa dos pais. Deixando W. muito fulo da vida. Então eu dizia pra W.: “Essa é a melhor maneira de morrer.” Ele nunca entendeu a piada. Nunca me prestei a explicá-la também. O fato é a coisa foi se tornando crônica e motivo pra discussões tolas até o ponto em que W. acabou se conformando com a situação percebendo que não ia mais ter jeito. Eu confesso que ajudei W. desenvolver sua opinião pois, acredito que as pessoas devam ter uma chance de assimilar primeiro pra depois decidir de forma coerente. O fato é que no caso de D. e W. a situação já estava estabelecida bem antes de se casarem. Não vi isso, nem W. e acabei julgando mal a situação dando uma opinião equivocada que acabou influenciando no fato de W. querer trair a mulher. “Não sei meu, filho, acho que você deve pensar.” Um erro não justifica outro. E a mancada ocorreu no princípio de tudo, de repente dá pra se ajeitar as coisas. Falei isso sem tentar expressar opinião e sem induzi-lo a nada. W. continuou me olhando com aqueles olhos inexpressivos. Achei prudente não falar mais nada. Abri um pacote de bolacha recheada e comecei a escrever esse texto.

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