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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ASSALTO MACABRO


- Vamos esperar as luzes debaixo se apagarem – disse o homem sentado ao volante.
- Detesto esperar. Por que diabos a gente não entra lá e acaba com essa história de uma vez, Magno?
- Paciência, meu irmão. Não quero morte.
  Havia uma brisa vinda direto do cais. Alguns carros passavam pela rua, mas ninguém percebeu o pointer estacionado próximo à calçada. Os irmãos não sabiam fazer outra coisa na vida.
- Detesto esperar – repetiu Dario.
Magno acendeu um cigarro e deu uma tragada profunda; estava com os olhos pregados na luz que vinha do primeiro andar da casa. Dario não fumava. Preferia mascar chicletes para relaxar. Resolveu ligar o radio nas clássicas. Dvorák. Sinfonia nº. 9 em Mi menor, “O novo mundo”. Largo.
- Nossa, Dario como você consegue ouvir essa droga?
- Não quero ser um negro burro.
- E desde quando você fica mais esperto ouvindo isso?
- Não enche cara.
As luzes no primeiro andar foram apagadas. Ambos viram acender a luz do quarto no segundo. Esperaram cerca de meia hora.
- Vamos.
- Como a gente vai entrar lá, Magno?
- Com isso. – disse ele tirando um molho de chaves do bolso.
- Caramba como você arranjou isso?
- Se você fosse mais esperto saberia que a empregada freqüenta a Dancing, seu idiota.
Foi fácil entrar. Usando a chave, Magno abriu o portão da frente e sabia que o melhor acesso à casa seria pela cozinha e não pela porta da frente, pois tinha pendurado nela os sinos de vento e o barulho poderia despertar a tenção do morador. Não havia cães na casa. Magno fez questão de se certificar bem com a empregada. Às vezes alguns médicos têm certas excentricidades.
Entraram sem fazer barulho. Acenderam suas mini-lanternas e começaram a vasculhar a casa.
- Tome cuidado para não derrubar nada – disse Magno para o irmão.
Ambos levavam dois sacos de poliéster suficientemente forte para agüentar o que iram levar. Vasculharam a sala e roubaram algumas peças de arte.
- A peça da encomenda deve estar lá no segundo andar. Vamos subir.
Subiram as escadas e encontraram no topo um corredor que levava para os quartos do segundo andar. Entraram num dos quartos indicados pela empregada e levaram alguns objetos de valor.
- Já temos o bastante. Vamos embora.
- Só objetos de arte? Eu preciso de grana viva, Magno.
- Você vai ter a sua grana se fizer o que eu disser.
- Vim pra cá pensando que a gente ia pegar uma grana na mão.
- Olha aqui, Dario se o Martin não tivesse quebrado a perna você não estaria aqui comigo. A gente não rouba grana. Se você quiser grana começa a roubar bancos entendeu? Mas como eu sei do tamanho da tua coragem, acho difícil isso acontecer. Então faz o que eu tô mandando de uma vez. Depois os caras que vão comprar essas peças pagam muito bem.
- Tá legal.
Estavam chegando ao último degrau quando algo chamou a atenção de Dario.
- Espera.
- O que foi agora?
- Tá ouvindo?
Magno parou e tentou prestar atenção.
- Não escuto nada, cara.
- Vem lá de cima.
- Vamos embora.
- Isso aí é Tchaikovsky.
- Quem?
- Música, cara. Preciso pegar esse disco pra mim.
Magno seu irmão até o quarto no fim do corredor. Achou estranho porque não ouvia música alguma. Dario foi em direção ao quarto como que se estivesse hipnotizado. Uma sensação estranha tomou conta de Magno que tentou trazer o irmão de volta em vão.
- Vem daqui, Dario.
- Melhor a gente cair fora.
- Cara, tu não ouve nada mesmo.
De repente uma luz surgiu por de trás da porta. Dario tocou na maceta. Estava quente, mas não o suficiente para queimar sua mão. Magno ficou mais atrás. Não via a luz. Ao abrir a porta Dario foi envolvido pela luz e sugado para dentro do quarto. Desesperado, Magno tentou abrir a porta em vão. Para aumentar seu desespero, seu irmão começou a gritar. Gritos horrorosos de desespero. Àquela altura se o medico acordasse na faria a menor diferença para ele. Passou a socar a porta. Nada. Houve batidas violentas na porta pelo lado de dentro. Parecia que jogavam o corpo de seu irmão.
Magno não queria o mesmo destino. Desceu as escadas tropeçando nas coisas pelo caminho envolvido pelos gritos de pavor de seu irmão. Ao chegar à porta da cozinha acabou se atrapalhando com as chaves. Devido ao nervosismo, havia esquecido que a porta já estava aberta e ficou tentando abri-la. Quando procurava a chave certa, levou uma pancada na cabeça que o fez tombar deixando-o tonto o suficiente para ficar inativo. Depois desmaiou.
Acordou e percebeu que estava sendo arrastado por uma das pernas por alguém. Estava sendo levado para algum ponto da casa. Pelo percurso, levantou um pouco a cabeça e tentou falar alguma coisa, porém o torpor era mais forte e o que saiu de sua boca foi algo mais parecido com um grunhido. Contudo, conseguiu reparar que um homem o arrastava com uma das mãos e que na outra segurava alguma coisa.
A casa ainda estava um pouco escura, mas não o suficiente para ele perceber que na outra ele segurava algo do tamanho de uma bola de futebol. Por sorte, passou por uma janela e os faróis de um carro que passava na rua iluminaram momentaneamente o interior da casa, tempo suficiente para ele notar que a bola de futebol era a na verdade a cabeça de Dario. Então percebeu que a noite iria ser mais longa do que ele poderia ter imaginado.







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