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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tarde demais pra correr


O Chevrolet S-10 de Silas Vilanova voava baixo pela BR-116. Eram 23h00min
- Ei, o que você tá fazendo?
- O que lhe parece?
- Aqui na estrada não. Eu posso bater e a gente não vai conseguir fazer o que a gente quer.
- Duvido – disse ela abrindo o zíper da calça de Silas
- Ei...
- Não vai doer. Eu não vou morder, relaxa.
Carol trabalhava duro em Silas quando ouviu uma sirene. Dois quilômetros antes haviam passado zunindo por um posto da policia rodoviária e estragando o sossego de um dos policiais que tomava seu café com creme. A viatura os seguiu por um quilometro antes de entrarem na sua frente obrigando Silas a pisar forte no freio. Com a freada, a mulher foi jogada para frente. A maldita inércia fez com que ela batesse no painel e, sabe-se lá Deus, parasse nos pés de Silas.
Já Silas, sabia que estava ferrado. Era menor. Não tinha habilitação para dirigir e para completar a cara do policial rodoviário não era das melhores. Principalmente depois de tê-lo visto com as calça arriada.
- Por sua causa, acabei derrubando meu café co creme.
O que veio depois foi uma sucessão de explosões furiosas em forma de perguntas. Após descobrir que ele não tinha habilitação para dirigir, o policial voltou sua raiva para Carol. Ele lhe fez outras dezenas de perguntas até se convencer de que realmente ela não era uma prostituta e sim uma professora de Historia do conceituado colégio Santa Madalena. Para completar a merda, quando ele descobriu de quem ele era filho, deu uma sugestão para que todos ficassem limpos na história.
- Vocês querem dinheiro?
- Não. Queremos fazer uma festa particular com ela.
Carol ficou furiosa.
- Vão pro inferno seus policiais de merda!
- Vamos deixar os dois pensando no assunto por um tempo. Temos a noite toda.
Depois de analisarem todas as possibilidades, Silas e Carol não tiveram alternativa senão aceitar.
- Ok. Aonde vai ser? – perguntou Carol.
Os policiais olharam uma para o outro e o que parecia estar no comando respondeu.
- A gente sabe onde. Entrem na viatura.
- E o meu carro? – perguntou Carol
- Meu colega, vai dirigindo.
Eles seguiram pela BR-116 até tomarem uma estrada de terra. Rodaram por uns vinte minutos mais ou menos. A caminhonete atrás e a viatura na frente. Chegaram até um lugar bem afastado da rodovia e pararam próximo a uma cabana. Deviam estar em algum lugar entre algum lugar e lugar nenhum, deduziu Carol.
Os quatro saíram do carro. Só não havia o breu total por causa da luz opaca da Lua e do brilho dos faróis.
- Vamos levar o garoto pra dentro? - perguntou o policial mais quieto.
- Não. Vamos deixá-lo algemado na caminhonete.
Silas pensou até em resistir, porém achou prudente não fazer nada. Deixaram-no dentro do carro preso ao volante. O policial mais durão foi quem o prendeu e ainda quis tirar um sarro dele.
- Não vá muito longe, garotão.
Sobre a luz fraca da Lua, ele pode ver os três desaparecerem dentro da pequena cabana. Droga. Era para ele estar numa hora daquelas se divertindo com sua professora, não aqueles dois filhos da puta. Por um instante, Silas pensou se ela não estaria gostando e uma breve ereção começou a acontecer quando ele ouviu um grito agudo e disparos das armas. Aquilo fez todos os sentidos de Silas ficarem em alerta.
- Mas que diabos ta acontecendo lá dentro?
Depois dos disparos ouviu barulhos dentro da cabana e os gritos pavorosos. Sentiu o medo tomar contar de seu corpo através de um arrepio que fez os pelos de seu corpo se ouriçar. Alguma merda estava acontecendo dentro da cabana e ele preso na porra da S-10 e a única coisa que ele pensava em fazer era salvar a sua pele. Então ele começou a forçar as algemas. Nada. Óbvio. Foi quando percebeu as chaves na ignição e tentou alcançá-las, mas não conseguiu. Na cabana os gritos haviam cessado e isso significava uma coisa: morte. De repente, como por ordem dos deuses do terror, as nuvens no céu começaram a cobrir a Lua envolvendo no breu todo o lugar. Sem tirar os olhos do borrão sinistro que acabana havia se tornado, Silas escutava apenas sua respiração esperando pelo pior. Quando percebeu um vulto vindo na direção da S-10, seu coração disparou. Tentou se livrar mais uma vez das algemas empregando toda a força que tinha puxando o mais forte que podia. Ficou aliviado ao conseguir distinguir naquela escuridão a silhueta de uma mulher. Era Carol. Mas como? Perplexo, começou a rir e a chorar apoiando a cabeça no volante. A mistura das emoções, no entanto, não o fizeram perceber quando ela parou ao lado da janela e ficou olhando para ele por segundos. Foi tudo muito rápido. Primeiro veio a explosão e milhares de vidros espalhados pelo espaço. Mãos poderosas arrancaram Silas de dentro da picape deixando preso ao volante seus braços junto com as algemas. O urro que ele deu ecoou por todo o descampado e ele quase desmaiou de dor. Se ele tivesse visto no breu absoluto a criatura que envolvia a cabeça de Carol, iria perceber que ela tinha a forma de um neurônio. Se ele pudesse ver no breu absoluto, perceberia que ele estava indo parar no fundo de um lago. Se ele pudesse ver no breu absoluto, perceberia que havia mais dez como aquela criatura. Se pudesse ver no breu absoluto, saberia como é estar morto.

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